quinta-feira, 10 de abril de 2014

A Parábola da Rede



Marta Antunes de Moura




Nos dias 11, 12 e 13 de abril do ano em pauta, nós, os espíritas nos unimos para realizar e participar do 4º Congresso Espírita Brasileiro, que tem como objetivo comemorar os 150 Anos de O Evangelho segundo o Espiritismo, a terceira obra da Codificação Espírita, publicada por Allan Kardec, em Paris, no ano de 1864. O momento é, portanto,  de alegria, confraternização e de gratidão ao Codificador que, ao recordar os sublimes ensinamentos do Evangelho, fez renascer Jesus em nossos corações e em nossa vida.
Nada mais justo, pois, prestar singela homenagem a Kardec, entre tantas as que ele é merecedor, lembrando uma das parábolas do Mestre Nazareno que reflete o atual momento de transformação que a humanidade terrestre deverá passar. É chegada a hora  de, efetivamente, não só conhecermos Jesus, mas, acima de tudo,  aplicar as suas sábias orientações no cotidiano da existência.
 A Parábola da Rede está descrita no seguinte registro do apóstolo e evangelista Mateus: Novamente, o Reino dos Céus é semelhante a uma rede lançada ao mar,  que recolheu todo gênero de peixe. Quando ficou cheia, depois de a puxarem para a praia e de se sentarem, recolheram os bons em recipientes, e os deteriorados jogaram fora. Assim será na consumação da era; os anjos sairão e separarão os malvados do meio dos justos;  e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá o pranto e o ranger de dentes. Entendestes todas estas coisas? Diziam-lhe: Sim. Ele lhes disse: Por isso, todo escriba que se tornou discípulo no Reino dos Céus é semelhante ao homem, senhor da casa, que extrai do seu tesouro coisas  novas e antigas (Mateus, 13:47-52)1 
Na parábola, o Reino dos Céus é comparado a uma rede que — abstraindo-se da simbologia usual dos textos sagrados —, pode ser definida como o instrumento que recolhe do mar da vida Espíritos de diferentes graus evolutivos para, juntos, fazê-los progredir, de acordo com os preceitos da lei de amor, justiça e caridade, assim considerada por Allan Kardec: “O  progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, amor e caridade; essa lei é fundada na certeza do futuro.[...] Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas as condições de felicidade do homem.[...].”2
Recolhidos em um espaço comum, homens de todas as raças, credos e diversidade intelectual e moral são apanhados para serem julgados de acordo com suas obras: “Dizem-nos de todas as partes que são chegados os tempos marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão para a regeneração da humanidade. [...].”3 Significa também dizer Até aqui, a  humanidade tem realizado  incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes,  ainda,  um imenso progresso a realizar:  fazerem que reinem entre si a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. 4 (Grifos no original)
Colhidos pela pescaria divina, os homens são convidados a se renovarem pela prática do bem, no pensar, falar e agir, libertando-se das algemas do egoísmo e do orgulho que escravizam consciências. O momento exato em que somos brindados pelas oportunidades divinas  estão, resumidamente, representadas nestes esclarecimentos de Emmanuel:
 Observa em derredor de ti e reconhecerás onde, como e quando Deus te chama em silêncio a colaborar com ele, seja no desenvolvimento das boas obras, na sustentação da paciência, na intervenção caridosa em assuntos inquietantes para que o mal não interrompa a construção do bem, na palavra iluminativa ou na seara do conhecimento superior, habitualmente ameaçada pelo assalto das trevas. [...].5
O processo de seleção, ensinado pelo Cristo, é muito simples e objetivo, como consta no versículo 48: recolheram os bons em recipientes, e os deteriorados jogaram fora.. Implica dizer que os que permanecerem fiéis e perseverantes no bem estarão aptos para habitar um mundo de regeneração. Os demais, são considerados Espíritos retardatários, que necessitam repetir experiências em ambientes que lhes estimulem o progresso espiritual.
Tendo o bem que reinar na Terra o bem, é preciso que dela sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam trazer-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo necessário para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, ele será interdito, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como outrora o foram para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. [...].
Não há dúvida de que tal seleção produzirá sofrimento, lágrimas e amarguras, citados nos versículos seguintes, 49 e 50: Assim será na consumação da era; os anjos sairão e separarão os malvados do meio dos justos;  e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá o pranto e o ranger de dentes.
Pode-se perceber, contudo, que a separação será realizada por Espíritos altamente qualificados: os anjos. Ou seja, Espíritos puros que, superiormente esclarecidos e bondosos, saberão envolver com muito amor os menos evolvidos nos processos reeducativos.
Como a cooperação integra os fundamentos da legislação divina, esses enviados celestiais, por sua vez, contarão com o apoio de Espíritos devotados que, ao assumirem missões e compromissos, entre os encarnados ou os desencarnados, atuarão como instrumentos do progresso. Emmanuel, em sua sabedoria, nos ensina a identificar os benfeitores que, muitas vezes, ombreiam conosco na estrada da vida.
Ser-nos-á sempre fácil discernir a presença dos mensageiros divinos, ao nosso lado, pela rota do bem a que nos induzam. Ainda mesmo que tragam consigo o fulgor solar da Vida Celeste, sabem acomodar-se ao nosso singelo degrau nas lides da evolução, ensinando-nos o caminho da Esfera Superior. E ainda mesmo se alteiem a culminâncias sublimes na ciência do Universo, ocultam a própria grandeza para guiar-nos no justo aproveitamento das possibilidades em nossas mãos. Sem ferir-nos de leve, fazem luz em nossas almas, a fim de que vejamos as chagas de nossas deficiências, de modo a que venhamos saná-las na luta do esforço próprio.7
 REFERÊNCIAS 
  1. DIAS, Haroldo Dutra. (Trad.). O Novo Testamento. 1. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013, p. 90.
  2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4 ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. Introdução IV, p.450.
  3. ________. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.. Brasília: FEB, 2013. Cap. XVIII, it. 1, p. 343.
  4. ________. Cap. XVIII, it. 5, p. 345.
  5. XAVIER, Francisco Cândido. Encontro Marcado. Pelo Espírito Emmanuel. 11.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 16, p. 60.
  6. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.. Brasília: FEB, 2013. Cap. XVII, it. 63, p. 339.
  7. XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 22. ed. 1. imp.. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 35, p. 60.

Fonte: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/a-parabola-da-rede/

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