Marta Antunes de Moura
Um dos correspondentes da Revista Espírita enviou
a Allan Kardec, a seguinte pergunta,: “Deve-se publicar tudo quanto
dizem os Espíritos?” O Codificador do Espiritismo respondeu a indagação
com outra pergunta: “(…) seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam
os homens?”[1]
Antes, porém, de emitir opinião
abalizada sobre o assunto, Kardec apresenta ponderadas considerações
que merecem ser recordadas, sobretudo porque permanecem atuais:
Quem quer que possua uma noção do
Espiritismo, por mais superficial que seja, sabe que o mundo invisível é
composto de todos os que deixaram na Terra o envoltório visível.
Entretanto, pelo fato de se haverem despojado do homem carnal, nem por
isso os Espíritos se revestiram da túnica dos anjos. Encontramo-los de
todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade e de
imoralidade; eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que
entre os Espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, estouvados e
zombeteiros; (pseudo sábios); vãos e orgulhosos, de um saber
incompleto; hipócritas, malvados e (…) existem os sensuais, os ignóbeis e
os devassos, que se arrastam na lama. Ao lado disto, tal como ocorre na
Terra, temos seres bons, humanos, benevolentes, esclarecidos, de
sublimes virtudes (…); resulta que o mundo dos Espíritos compreende
seres mais avançados intelectual e moralmente que os nossos homens mais
esclarecidos, e outros que ainda estão abaixo dos homens mais
inferiores.[2]
Prosseguindo em suas considerações,
Kardec enfatiza a necessidade de aprendermos analisar o teor das
mensagens mediúnicas, atentos à linguagem utilizada pelo comunicante
desencarnado, principalmente quando esta comunicação é subscrita com o
nome de personalidade conhecida, respeitada e amada.
Desde que esses seres [desencarnados]
têm um meio patente de comunicar-se com os homens, de exprimir os
pensamentos por sinais inteligíveis, suas comunicações devem ser o
reflexo de seus sentimentos, de suas qualidades ou de seus vícios. Serão
levianas, triviais, grosseiras, mesmo obscenas, sábias, sensatas e
sublimes, conforme o seu caráter e sua elevação. Revelam-se por sua
própria linguagem; daí a necessidade de não se aceitar cegamente tudo
quanto vem do mundo oculto, e submetê-lo a um controle severo. (…).[3]
Os comentários que se seguem, expõem de
forma clara o pensamento de Allan Kardec relativo ao assunto, e as suas
ponderações devem servir de modelo para todos nós, espíritas, que
cotidianamente recebemos notícias do plano espiritual.
Ao lado dessas comunicações francamente
más, e que chocam qualquer ouvido delicado, outras há que são
simplesmente triviais ou ridículas. Haverá inconvenientes em
publicá-las? Se forem dadas pelo que valem, serão apenas impróprias; se o
forem como estudo do gênero, com as devidas precauções, os comentários e
os corretivos necessários, poderão mesmo ser instrutivas, naquilo que
contribuírem para tornar conhecido o mundo espírita em todos os seus
aspectos. Com prudência e habilidade tudo pode ser dito; o mal é dar
como sérias coisas que chocam o bom senso, a razão e as conveniências.
Neste caso, o perigo é maior do que se pensa. (…).[4]
Surgem, então e muito naturalmente,
outras indagações: que riscos podem ocorrer, caso sejam divulgadas
mensagens mediúnicas triviais, sem maiores exames? Que problemas
poderiam advir da publicação de mensagens pressupostamente assinadas por
entidades veneráveis, mas que, aqui e ali, apresentam pontos
discordantes quanto à identificação? Revelando-se como arguto analista,
Kardec esclarece:
Em primeiro lugar, essas publicações têm
o inconveniente de induzir em erro as pessoas que não estão em
condições de aprofundá-las nem de discernir o verdadeiro do falso,
especialmente numa questão tão nova como o Espiritismo. Em segundo
lugar, são armas fornecidas aos adversários, que não perdem tempo em
tirar desse fato argumentos contra a alta moralidade do ensino espírita;
porque, insistimos, o mal está em considerar como sérias coisas que
constituem notórios absurdos. Alguns mesmos podem ver uma profanação no
papel ridículo que emprestamos a certas personagens justamente
veneradas, e às quais atribuímos uma linguagem indigna delas.[5]
Em suma, assevera Allan Kardec, como conclusão da análise deste assunto, tão útil quanto necessário:
(…) As comunicações grosseiras e
inconvenientes, ou simplesmente falsas, absurdas e ridículas, não podem
emanar senão de Espíritos inferiores: o simples bom senso o indica. (…)
A importância que, pela publicidade, é concedida às suas comunicações,
os atrai, excita e encoraja. O único e verdadeiro meio de os afastar é
provar-lhes que não nos deixamos enganar, rejeitando impiedosamente,
como apócrifo e suspeito, tudo que não for racional, tudo que desmentir a
superioridade que se atribui ao Espírito que se manifesta e de cujo
nome ele se reveste. Quando, então, vê que perde seu tempo, afasta-se.[6]
Os espíritas esclarecidos estão
compromissados com a Causa, onde quer que se encontrem. Pontuam
fidelidade à Doutrina Espírita e não se afastam do propósito de se
transformarem em pessoas de bem. Não se deixam enganar por informações
infelizes, mentirosas mesmo, presentes em algumas publicações,
supostamente espíritas, mas que não resistem a uma análise séria, e o
que é mais grave: contrariam a mais elementar conceituação espírita: o
controle universal do ensino dos Espíritos que, brilhantemente, Allan
Kardec inseriu no primeiro capítulo de A Gênese. Os Milagres e as Predições, que trata do Caráter da Revelação Espírita. É importante conferir.
Assim, nada mais justo, e necessário, portanto, seguir este conselho de Bezerra de Menezes: “(…) Mantenhamo-nos, por isso, vigilantes. Jesus na Revelação e Kardec no esclarecimento resumem para nós códigos numerosos de orientação e conduta. (…).”[7]
[1] Allan Kardec. Revista Espírita- Jornal de estudos Psicológicos. Ano II, novembro de 1859, pág. 423.
[2] Ibid., pág. 423/424.
[3] Ibid., pág. 424.
[4] Ibid., pág. 425.
[5] Ibid. ibid., pág. 425.
[6] Ibid., pág. 427.
[7] Juvanir Borges de Souza (coord.). Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. Pt. 3,, cap. 16, pág. 153. (mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, publicada em Reformador de abril de 1977, pág. 104.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. 2ª ed. Ano II. Novembro de 1859. Nº 11. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2004.
SOUZA, Juvanir Borges (coordenador). Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. 4ª ed. 4ª imp. Brasília: FEB Editora, 2013.
Fonte: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/divulgacao-de-mensagens-mediunicas/
[2] Ibid., pág. 423/424.
[3] Ibid., pág. 424.
[4] Ibid., pág. 425.
[5] Ibid. ibid., pág. 425.
[6] Ibid., pág. 427.
[7] Juvanir Borges de Souza (coord.). Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. Pt. 3,, cap. 16, pág. 153. (mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, publicada em Reformador de abril de 1977, pág. 104.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. 2ª ed. Ano II. Novembro de 1859. Nº 11. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2004.
SOUZA, Juvanir Borges (coordenador). Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. 4ª ed. 4ª imp. Brasília: FEB Editora, 2013.
Fonte: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/divulgacao-de-mensagens-mediunicas/
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