Marta Antunes de Moura
Há setenta e seis anos, em 13 de maio
de 1938, o então vice presidente da Federação Espírita Brasileira, Manuel
Justiniano de Freitas Quintão — que também ocupou a presidência da FEB em três
mandatos (1915, 1918 e 1929) — visitou o saudoso médium Chico Xavier, em Pedro
Leopoldo. Foi um encontro de almas afins, amigos de existências pretéritas que,
unidos em torno do ideal e da responsabilidade de espalhar as luzes do
Evangelho de Jesus, segundo a interpretação espírita, souberam manter-se fieis
ao compromisso de servir ao Cristo, abstraindo-se de qualquer manifestação de
vaidade ou de personalismo.
Relendo tais informações, somos
naturalmente envolvidos por sinceras emoções que nos conduzem às lágrimas,
apenas ao imaginar como deve ter sido feliz aquele encontro e, também, por
constatar que hoje há carência de boas lideranças como a do Chico e de Quintão.
Temos, sim, na atualidade espíritas muito devotados, exemplos vivos de retidão,
pessoas que verdadeiramente se sacrificam pela Causa Espírita. Contudo,
infelizmente, há escassez de liderança, em qualquer cenário que se focalize
(político, social, religioso e espírita) porque o egocentrismo, a idolatria de
si mesmo, está se alastrando no mundo como uma erva daninha.
Em geral, percebe-se que há pouca
preocupação com o bem coletivo, com o próximo. A tônica, quase patológica, é a
de “deixar uma marca no mundo”, independentemente se valores morais e éticos
estariam sendo violentados. Na verdade, o discurso dos falsos inovadores é
marcado pelo descompromisso moral, ainda que preguem a necessidade de ser bom,
de fazer o bem, e recheiam suas falas com citações do Evangelho ou indiquem
leituras de páginas escritas por Espíritos veneráveis.
São tropeços e desafios inerentes ao
período de transição, em plena vigência na atualidade, mas que cabe ao espírita
cristão enxergar com clareza para saber agir corretamente e fazer escolhas
acertadas. Até porque, esclarece Allan Kardec:
À agitação dos encarnados e dos
desencarnados se juntam, por vezes e na maioria das vezes, já que tudo se
conjuga, na natureza, as perturbações dos elementos físicos; é então, por um
tempo, uma verdadeira confusão geral, mas que passa como um furacão, depois do
que o céu se torna sereno, e a humanidade, reconstituída sobre novas bases,
imbuída de novas ideias, percorre uma nova etapa de progresso. 1
Retornando à visita de Quintão, na
ocasião, Emmanuel transmitiu, pela mediunidade de Chico Xavier, uma mensagem
que permanece atual. Publicada inicialmente no Reformador de julho de 1938,
recebeu este título: Mensagem de Emmanuel – o grande labor de todos os
tempos e o labor precípuo para resolvê-lo. Republicada no Reformador de
maio de 1976, passou a ser denominada À Luz do Evangelho.
Nessa comunicação mediúnica Emmanuel
põe em evidência a necessidade da evangelização para o ser humano,
independentemente da faixa etária em que se encontre, e fornece preciosas e
confiáveis diretrizes à sua execução. Por se tratar de um resgate histórico,
oriundo da época em que a evangelização espírita infanto-juvenil encontrava-se
em processo de organização e funcionamento no Brasil, pedimos ao leitor amigo
leitura atenta e reflexiva do texto que se segue, a fim de não nos iludirmos
quanto ao caminho que devemos seguir. Eis a mensagem:
Meus amigos:
Saudando o nosso irmão presente, bem
como aos demais companheiros da nossa caravana evangélica, faço-o na paz de
Jesus, desejando-vos a sua luz santificadora.
Nada mais útil do que o esforço de
evangelização, na atualidade, e é dentro dessa afirmativa luminosa que
precisamos desenvolver todos os nossos labores e pautar todos os pensamentos e
atitudes. As transições terríveis e amargas do século têm sua origem na
clamorosa incompreensão do exemplo do Cristo. O trabalho secular de organização
das ciências positivas caminhou a par da estagnação dos princípios religiosos.
Os absurdos contidos nas afirmações e negações de hoje são o coroamento da obra
geral das ciências humanas, entre as quais, despojada de quase todos os seus
aspectos magníficos da Antiguidade, vive a filosofia dentro de um negativismo
transcendente. E o que se evidencia, aos amargurados dias que passam, é , de um
lado, a ciência que não sabe e, de outro, a religião que não pode.
O nosso labor deve caracterizar-se
totalmente pelo esforço de renovação das consciências e dos corações, à luz do
Evangelho. Urge, pelos atos e pelos sentimentos, retirar da incompreensão e da
má-fé todas as leis orgânicas do código divino, e aplicá-las à vida comum.O
vosso sacrifício e o vosso esforço executarão o trabalho regenerador, mas
necessário é não vos preocupeis com os imperativos do tempo, divino patrimônio
da existência do espírito. À força de exemplificação e apoiados nas vossas
convicções sinceras, conseguireis elevadas realizações, que farão se transladem
para as leis humanas as leis centrais e imperecíveis do Divino Mestre.
Esse o grande problema dos tempos.
Nenhuma mensagem do mundo espiritual
pode ultrapassar a lição permanente e eterna do Cristo, e a questão, sempre
nova, do Espiritismo é, acima de tudo evangelizar, ainda mesmo com sacrifício
de outras atividades de ordem doutrinária.
A alma humana está cansada de ciência
sem sabedoria e, envenenado pelo pensamento moderno, o cérebro, nas suas
funções culturais, precisa ser substituído pelo coração, pela educação do
sentimento. O Evangelho e o trabalho incessante pela renovação do homem
interior devem constituir a nossa causa comum. Procuremos desenvolver nesse
sentido todo o nosso esforço dentro da oficina de Ismael, e teremos encontrado,
para a nossa atividade, o setor de edificação sadia e duradoura.
Que Jesus abençoe os labores do nosso
amigo e dos seus companheiros, que, com abnegação e renúncia, lutam pela causa
do glorioso Anjo, servindo de instrumento sincero à orientação superior da sua
Casa no Brasil, é a rogativa muito fervorosa do irmão e servo humilde.
Emmanuel
Referências
- KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 1imp. Brasília: FEB, 2013. Cap.XVIII, it. 9, p. 349.
Fonte: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/a-luz-do-evangelho-diretrizes-para-a-evangelizacao-segundo-emmanuel/