Marta Antunes de Moura
A principal mudança a ser implementada nos
postulados educativos envolve o desafio de saber diferenciar, na teoria e na
prática, instrução de educação, propriamente dita. É o passo
inicial para que se possa estabelecer a vivencia de um novo paradigma
educacional.
Educar é disponibilizar condições para o pleno
desenvolvimento do ser humano nos aspectos biológicos, intelectual, psíquico,
psicológico, social, estético, ecológico e moral. Instruir se resume a
transmitir ou adquirir conhecimentos. Em outras palavras, educar significa
“ensinar a pescar” no lugar de simplesmente “fornecer o peixe”, assegurando-se,
porém, de que o processo ensino-aprendizagem esteja assentado em valores
morais e éticos, imprescindíveis à construção de um mundo melhor,
civilizado e solidário.
Neste sentido, Emmanuel enfatiza:
Mas a educação, com o cultivo da inteligência e com
o aperfeiçoamento do campo intimo, em exaltação de conhecimento e bondade,
saber e virtude, não será conseguida tão só à forca de instrução, que se
imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em
se consagrando ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza,
pode libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma,
capaz de refletir a vida gloriosa e transformar, consequentemente, o cérebro em
preciosa usina de energia superior.
A educação moderna tem como base as conclusões do
relatório Educação, um tesouro a descobrir, elaborado pela Comissão
internacional sobre educação para o século XXI, organizada e
patrocinada pela UNESCO. Este documento, também conhecido como Relatório
Delors, foi assinado e apresentado ao mundo pelo presidente da Comissão,
Jacques Delors, em 1996, que, em síntese, apresenta quatro pilares que devem
nortear a educação no mundo atual: aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a conviver, aprender a ser.
- Aprender a conhecer: fundamenta-se no aspecto cognitivo do conhecimento lógico (racional), que estimula a compreensão intelectual dos saberes, a dedução e a memória. Auxilia o educando a adquirir recurso intelectuais e cognitivos que lhes permitam construir as suas próprias opiniões e o seu próprio pensamento crítico. O aprendizado racional é incentivado tanto pelo método dedutivo como o intuitivo, para que a pessoa possa chegar às suas próprias conclusões e aventurar-se pelos domínios do saber e do desconhecido.
- Aprender a fazer: Indissociável do aprender a conhecer, que lhe confere as bases teóricas, refere-se essencialmente à formação técnico-profissional do educando. Atualmente existe outro ponto essencial relacionado ao aprender fazer: a comunicação. Ou seja, não basta ser bom profissional, conhecedor do “ofício”, é preciso transmitir a informação correta e, também, saber interpretar e selecionar diferentes informações, muitas delas contraditórias, que transitam no meio social, virtual ou não.
- Aprender a conviver: possivelmente, trata-se do maior desafio da educação, pois está diretamente relacionado às atitude e aos valores. Refere-se à convivência voltada para a paz que orienta como administrar conflitos, libertar-se de preconceitos, intolerâncias e rivalidades que desagregam a convivência pacifica. Para tanto, é preciso, primeiro, descobrir o outro de forma progressiva, considerando o respeito individual e a diversidade humana. Segundo, participação em projetos comuns que priorizam espaços de convivência, necessários à diluição de conflitos e descobertas de pontos comuns que unem pessoas e os povos.
- Aprender a ser: é fundamental que a pessoa humana desenvolva-se de forma integral: corpo e espírito; inteligência e responsabilidade pessoal; sentimentos e emoções; sensibilidade estética e ecológica; espiritualização e solidariedade, etc. Assim, o ser humano é preparado, pela educação, como elaborar pensamentos autônomos e críticos, mas mantendo o permanente respeito ao outro, e, igualmente, como formular os próprios juízos de valor, saiba como conduzir a própria existência e como agir, eticamente, nas diferentes circunstâncias da vida.
Os pilares da educação é material nobre, surgidos
em momento significativo da experiência humana que não podem, nem devem, ser
ignorados, como destaca a querida educadora espírita Sandra Borba:
Essas experiências geram responsabilidades que reclamam a busca da integração com a Natureza, o compromisso com a Humanidade e a necessária superação dos egoísmos coletivos ou individuais de cor, raça, gênero, credo ou condições sociais e de localização geográfica. Para o desenvolvimento desse principio há algo fundamental: a busca de intercessões capazes de oportunizar conhecer o outro, suas ideias, saberes e fazeres, costumes, valores, tradições e espiritualidade. Isto só e possível pelo compartilhamento, pela comunhão, pelo dialogo, pela convivência.2
Essas experiências geram responsabilidades que reclamam a busca da integração com a Natureza, o compromisso com a Humanidade e a necessária superação dos egoísmos coletivos ou individuais de cor, raça, gênero, credo ou condições sociais e de localização geográfica. Para o desenvolvimento desse principio há algo fundamental: a busca de intercessões capazes de oportunizar conhecer o outro, suas ideias, saberes e fazeres, costumes, valores, tradições e espiritualidade. Isto só e possível pelo compartilhamento, pela comunhão, pelo dialogo, pela convivência.2
O Relatório Delors revela-se como uma proposta
desafiadora que, se devidamente desenvolvido, tem o poder de mudar, para
melhor, as condições de vida da humanidade terrestre, por meio da
educação que considera a pessoa como um ser integral, inserido em uma sociedade
multicultural, porém portador de diferenças individuais.
Os ensinamentos espíritas, à luz do Evangelho de
Jesus, mantêm-se sintonizado com os avanços do conhecimento humano, pois o
Espiritismo valoriza as conquistas da inteligência, hoje tão evidenciada
pela tecnologia, sem jamais deixa de priorizar a importância do
aprendizado moral. Sem a educação moral, ou com educação moral de superfície,
os indivíduos dificilmente se transformarão em pessoas de bem, ainda que
revelem elevado grau de instrução. Daí o Codificador indicar a educação moral
como o antídoto de combate às imperfeições humanas:
(…) Quando se pensa na grande quantidade de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de admirar as consequências desastrosas que dai resultam? Quando essa arte [educação moral] for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar com menos dificuldade os dias ruins que não pode evitar. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só a educação bem entendida pode curar. Eis aí o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.3 (Grifos no original)
(…) Quando se pensa na grande quantidade de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de admirar as consequências desastrosas que dai resultam? Quando essa arte [educação moral] for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar com menos dificuldade os dias ruins que não pode evitar. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só a educação bem entendida pode curar. Eis aí o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.3 (Grifos no original)
Referências Bibliográficas
- XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 19 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 5, p.24-25
- PEREIRA, Sandra Maria Borba. Reflexões pedagógicas à luz do evangelho. Curitiba: Federação espírita do Paraná. 2009, cap. 2, p. 43.
Fonte: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/bases-da-educacao-moderna/