terça-feira, 11 de março de 2014

Bases da Educação Moderna


 Marta Antunes de Moura




A principal mudança a ser implementada nos postulados educativos envolve o desafio de saber diferenciar, na teoria e na prática, instrução de educação, propriamente dita. É o passo inicial para que se possa estabelecer a vivencia de um novo paradigma  educacional.
Educar é disponibilizar condições para o pleno desenvolvimento do ser humano nos aspectos biológicos, intelectual, psíquico, psicológico, social, estético, ecológico e moral. Instruir se resume a transmitir ou adquirir conhecimentos. Em outras palavras, educar significa “ensinar a pescar” no lugar de simplesmente “fornecer o peixe”, assegurando-se, porém,  de que o processo ensino-aprendizagem esteja assentado em valores morais e éticos, imprescindíveis  à construção de um mundo melhor, civilizado e solidário.
Neste sentido, Emmanuel enfatiza:
Mas a educação, com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento do campo intimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude, não será conseguida tão só à forca de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de refletir a vida gloriosa e transformar, consequentemente, o cérebro em preciosa usina de energia superior.
A educação moderna tem como base as conclusões do relatório Educação, um tesouro a descobrir, elaborado pela Comissão internacional sobre educação para o século XXI, organizada e patrocinada pela UNESCO. Este documento, também conhecido como Relatório Delors, foi assinado e apresentado ao mundo pelo presidente da Comissão, Jacques Delors, em 1996, que, em síntese, apresenta quatro pilares que devem nortear a educação no mundo atual: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser.
  • Aprender a conhecer: fundamenta-se no aspecto cognitivo do conhecimento lógico (racional), que estimula a compreensão intelectual dos saberes, a dedução e a memória. Auxilia o educando a adquirir recurso intelectuais e cognitivos que lhes permitam construir as suas próprias opiniões e o seu próprio pensamento crítico. O aprendizado  racional é incentivado tanto pelo método dedutivo como o intuitivo, para que a pessoa possa chegar às suas próprias conclusões e aventurar-se pelos domínios do saber e do desconhecido.
  • Aprender a fazer: Indissociável do aprender a conhecer, que lhe confere as bases teóricas, refere-se essencialmente à formação técnico-profissional do educando. Atualmente existe outro ponto essencial relacionado ao aprender fazer: a comunicação. Ou seja, não basta ser bom profissional, conhecedor do “ofício”,  é preciso transmitir a informação correta e, também, saber interpretar e selecionar diferentes  informações, muitas delas contraditórias, que transitam no meio social, virtual ou não.
  • Aprender a conviver:  possivelmente, trata-se do maior desafio da educação, pois está diretamente relacionado às atitude  e aos valores. Refere-se à convivência voltada para a paz que orienta como  administrar conflitos, libertar-se de preconceitos, intolerâncias e rivalidades que desagregam a convivência pacifica.  Para tanto, é preciso, primeiro, descobrir o outro de forma progressiva, considerando o respeito individual e a diversidade humana. Segundo, participação em projetos comuns que priorizam espaços de convivência, necessários à diluição de conflitos e descobertas de pontos comuns que unem  pessoas e os povos.
  • Aprender a ser:  é fundamental que a pessoa humana desenvolva-se de forma integral: corpo  e espírito; inteligência e responsabilidade pessoal; sentimentos e emoções; sensibilidade estética e ecológica; espiritualização e solidariedade, etc. Assim, o ser humano é preparado, pela educação, como elaborar pensamentos autônomos e críticos, mas mantendo o permanente respeito ao  outro, e, igualmente,  como formular os próprios juízos de valor, saiba como  conduzir a própria existência e como agir, eticamente, nas diferentes circunstâncias da vida.
Os pilares da educação é material nobre, surgidos em momento significativo da experiência humana que não podem, nem devem, ser ignorados, como destaca a querida educadora espírita Sandra Borba:

Essas experiências geram responsabilidades que reclamam a busca da integração com a Natureza, o compromisso com a Humanidade e a necessária superação dos egoísmos coletivos ou individuais de cor, raça, gênero, credo ou condições sociais e de localização geográfica. Para o desenvolvimento desse principio há algo fundamental: a busca de intercessões capazes de oportunizar conhecer o outro, suas ideias, saberes e fazeres, costumes, valores, tradições e espiritualidade. Isto só e possível pelo compartilhamento, pela comunhão, pelo dialogo, pela convivência.
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O Relatório Delors revela-se como uma proposta desafiadora que, se devidamente desenvolvido, tem o poder de mudar, para melhor,  as condições de vida da humanidade terrestre, por meio da educação que considera a pessoa como um ser integral, inserido em uma sociedade multicultural, porém portador de diferenças individuais.
Os ensinamentos espíritas, à luz do Evangelho de Jesus, mantêm-se sintonizado com os avanços do conhecimento humano, pois o Espiritismo valoriza as conquistas  da inteligência, hoje tão evidenciada pela tecnologia, sem  jamais deixa de priorizar a importância do aprendizado moral. Sem a educação moral, ou com educação moral de superfície, os indivíduos dificilmente se transformarão em pessoas de bem, ainda que revelem elevado grau de instrução. Daí o Codificador indicar a educação moral como o antídoto de combate às imperfeições humanas:

(…) Quando se pensa na grande quantidade de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de admirar as consequências desastrosas que dai resultam? Quando essa arte [educação moral] for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar com menos dificuldade os dias ruins que não pode evitar. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só a educação bem entendida pode curar. Eis aí o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos
.3 (Grifos no original)

Referências Bibliográficas
  1. XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel.  19 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 5, p.24-25
  2. PEREIRA, Sandra Maria Borba. Reflexões pedagógicas à luz do evangelho. Curitiba: Federação espírita do Paraná. 2009, cap. 2, p. 43.  

Fonte: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/bases-da-educacao-moderna/